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O PODER DA MÚSICA

Por Lu Mosqueira


A música é entendida por muitos como uma forma de diversão. E isso não está errado. Ela é diversão e outras coisas tão maravilhosas quanto. Voltando um pouco na pré-história… apesar de o ser humano possuir, intrinsecamente, elementos de ritmo e de som, como a respiração, o caminhar, as batidas do coração, a produção de sons através das mãos, pés e voz, entre outros, não se sabe a origem da prática musical por nós, humanos. No entanto, existem algumas hipóteses em relação ao surgimento do canto humano: o canto seria a consequência do ritmo, o canto surge como uma necessidade de expressão dos sentimentos, ou, ainda, o homem tenta imitar os sons da natureza (canto dos pássaros, ondas, ventos etc.) e fica tão encantado com esses ruídos emitidos que inicia seu próprio som. Todas essas hipóteses juntas talvez sejam de onde vem o nosso canto. Podemos dizer, então, que desde a pré-história é impossível separar a música da emoção (PIRES, 2019).


Quantas vezes uma música já nos transportou para um momento que vivemos no passado, porque ela era a trilha sonora e ajudou aquilo a se tornar inesquecível. Ela tem esse poder de nos tirar do lugar, mesmo estando parados. E quando estamos passando por fases difíceis? Ela chega como quem não quer nada, nos dá colo e a esperança de que as coisas vão melhorar. E se esse momento for uma pandemia!?! Nossa! Ela acalenta, dá fôlego, alegra...tudo ao mesmo tempo! Ela é poderosa, né? Além de tudo, ela é uma grande professora. Por exemplo, ela ensina para nós, pretos, que somos maravilhosos e filhos de rainhas e reis, que nosso lugar é onde queremos estar, que devemos lutar para que a cor da nossa pele não seja o único motivo pelo qual não temos oportunidade ou ganhamos uma bala no peito. É... a música pode fazer uma multidão refletir sobre coisas importantíssimas...



Música em tempos de pandemia - Foto: Denys Sete

Caminhando nessa linha, a música também nos auxilia no processo de empoderamento das minorias.


Como é maravilhoso, por exemplo, ver grandes mulheres pretas falando sobre o feminismo negro e ancestralidade em suas composições.

E, além disso, ainda se unirem em coletivos que incentivam outras mulheres a serem autoras não só de suas canções e/ou obras artísticas, mas de sua história (Coletivo Negras Autoras faz isso de forma linda!). Isso é um convite ao empoderamento, que é muito necessário para a consciência de que podemos ocupar lugares, antes, inimagináveis.


Minha experiência com a música transita por esse lugar. Apesar de estar em minha vida desde muito nova, foi com o passar dos anos que ela se tornou ferramenta de fortalecimento, por meio do apoio dos que amo, de grandes composições e grandes mulheres pretas compositoras e intérpretes que mostram, de verdade, o nosso valor. Isso foi de fundamental importância nesse processo de construção da autoestima enquanto mulher preta. A partir do momento em que nos enxergamos como realmente somos, e sabemos do que somos capazes, deixamos de ser tão perfeccionistas e, consequentemente, tão exigentes conosco. É o que acontece comigo...hoje me vejo como compositora (foi difícil alcançar isso), cantora que toca seu violão e, ainda, acadêmica na área química. E sei que faço tudo com muita qualidade. E esse processo é contínuo, porque estamos sempre em evolução.



Foto: Jadson Leonato
Foto: Lídia Andrade
A música é tudo isso e é, sobretudo, uma forma de expressão. Então, ela permite ao compositor expressar toda a sua indignação, toda a sua tristeza, alegria, amor e qualquer forma de sentimentos por meio da canção. E permite aos ouvintes ter suas próprias emoções ao colocar seu fone de ouvido ou ligar sua caixa de som.

Apesar de existirem vários sons na natureza e isso ser uma possível razão para a origem do canto humano, é muito claro que a música somos nós quem fazemos. A música é uma “forma do homem se relacionar com o mundo” (PUCHIVAILO; HOLANDA, 2014) e consigo mesmo diante de tudo que há e acontece nele. Isso é muito interessante quando pensamos na relação compositor, intérprete e ouvinte. A mesma canção pode ter efeitos completamente diferentes em cada ouvinte, pois cada um reage de maneira diferente às linhas melódicas e à própria temática, assim como à interpretação (intérprete diferente implica em interpretação diferente). Por outro lado, o compositor também pode ter tido outros tipos de sentimentos ao fazer a música e mesmo ao ouvi-la depois. Isso é algo maravilhoso e nos mostra que além da música ser uma ação do homem sobre o mundo, ela é um mundo de possibilidades e tem o poder de nos unir por meio de nossos sentimentos, mesmo que eles sejam diferentes.



 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


  • PIRES, Débora Costa. História da Música: Antiguidade ao Barroco. Indaial: Uniasselvi, 2019. 253 p.


  • PUCHIVAILO, Mariana Cardoso; HOLANDA, Adriano. A História da Musicoterapia na Saúde Mental: Dos usos terapêuticos da música à Musicoterapia. Revista Brasileira de Musicoterapia, [S.L.], v. 16, n. 16, p. 122-142, jan. 2014.

 

Lu Mosqueira é Servidora Técnico Administrativa na UFMG, lotada no Departamento de Física, formada em Engenharia Metalúrgica e doutoranda em Química na UFMG. Além disso, é cantora e compositora, tendo a música entrado em sua vida desde muito nova. Iniciou sua trajetória musical cantando na igreja, passando pelo Coral Canarinhos do Campo e depois pelo Coral Infanto-Juvenil do Palácio das Artes, onde participou de espetáculos como a ópera “Carmem” no Grande Teatro do Palácio das Artes. Lu Mosqueira já se apresentou nos teatros Santo Agostinho e Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec e participou do projeto “Quinta Cultural”, na Escola de Medicina da UFMG, em 2019. Em tempos de pandemia, participou do Circuito Cultural da UFMG com o show “Perto de mim”, show que teve oportunidade de apresentar também na Segunda Mostra Negras Autoras.

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