Por Edsel duarte
O espaço da produção técnica teatral foi apresentado a mim no ano de 2014, pela então recém chegada ao Teatro Universitário, professora Tereza Bruzzi de Carvalho. Eu já era aluno da escola e não tinha a noção, a técnica e a prática necessárias no sentido de contribuir para a criação do cenário e do figurino de uma produção. Foi quando o primeiro olhar a respeito deste espaço foi me colocado a mesa: a FUNCIONALIDADE.
Possuímos, dentro do Teatro Universitário, um espaço destinado ao laboratório de criação de figurinos, contendo uma variedade de peças de roupas em acervo e que sustenta o empréstimo de figurinos para toda a escola. Enquanto estudante, me parecia um espaço quase que lúdico e bagunçado, mas propicio à criação fluida de ideias e de desejos.
Funcionava quase que como um jogo: você subia ao mezanino, escolhia qual peça queria para o trabalho em questão (antes de outro colega pegá-la), torcia para lhe servir e descia para anotar o empréstimo. Ao terminar, devolvia a peça, que era incorporada ao acervo, sem preocupações ou pretensões de colocá-la em seu lugar, para que outros alunos pudessem ter acesso a ela novamente.
O tempo passa (e como passa rápido). Logo no ano seguinte, já trabalhando dentro do espaço do Figurino, pude notar várias mudanças (até porque Jefferson Goes, técnico administrativo do T.U e coordenador de alguns projetos da escola, não consegue parar quieto 5 dias). Para além de ser meu ano de formatura (2015), aquele espaço estava completamente modificado.
Onde, anteriormente, havia caixas de roupas e tecidos, agora abre-se o espaço para uma mesa grande para a realização das aulas de laboratório destinadas a disciplinas de figurino, cenografia e produção.
Além disso, o empréstimo começava a ser sistematizado: cada peça adquirira um número, um código e um lugar em nosso guarda-roupa. Essa sistematização, junto com o fervor da minha formatura, me abriu os olhos para o segundo aspecto: o olhar de FORMAÇÃO que me preparou para a experiência de formatura.
Processo 'EIA' - Foto: Maria Laura
Junto com a sistematização das peças, surgiram aspectos que, outrora, não poderíamos saber, como, por exemplo, peças de roupa usadas na década de 1960, no espetáculo “Sonho de uma noite de verão”, dirigida por Haydée Bittencourt, ainda estavam em nosso acervo e precisavam ser destinadas para uma categoria de peças raras. Isso também aconteceu com um vestido de noiva encontrado em acervo, que precisou ser destinado para a mesma categoria. Tais medidas nunca poderiam ser tomadas sem o conhecimento das peças que possuíamos. Junto a isso, algumas peças encontradas em acervo já serviram para construir a narrativa de figurino do espetáculo “A moça do Km 70”, minha formatura.
Com mais de mil e duzentas peças catalogadas, o figurino do Teatro Universitário adquire a função de quase que suprir as necessidades técnicas de espetáculos da escola, além de se tornar um espaço de convívio e de criatividade pulsante. Isso porque, entre intervalos de aulas, o espaço recebe oficinas, grupos de estudos e laboratórios de criação que contribuem (e muito) para a formação dos alunos da escola. Eu só consegui entender o quão importante o Laboratório de Figurino do Teatro Universitário é, quando entendi a mecânica do espaço funcionando ativamente.
Bom, anos se passaram, o espaço mudou muitas vezes desde 2015 (não é mesmo Jhefersson!?). Os alunos mudaram, acervos foram incorporados, outros foram transformados para adentrar em intervenções na escola, o espaço foi ganhando outras proporções dentro da escola, outras camadas e a única coisa que não mudava no figurino era... eu!
No ano de 2018, a escola me convida para assinar o figurino do espetáculo “EIA” de direção de Monica Tavares. Era a primeira vez que um ex-aluno da escola assinava uma produção dentro da casa que lhe tinha formado! E é neste ponto que o terceiro olhar me foi colocado: o olhar de PROFFISIONAL.
Na época, eu estava cursando Design de Moda na Escola de Belas Artes e já havia tido inúmeras participações em processos de formatura, junto com a professora Tereza Bruzzi, com o prof. Cristiano Cezarino e com muitos colegas do Barracão (núcleo de pesquisa em cenografia da UFMG). Porém, seria a primeira vez que conduziria uma equipe.
O espaço da escola tornou-se mais generoso. Criamos um grupo de trabalho. Sempre buscávamos peças do acervo que pudessem contribuir para a construção do figurino. Alguns alunos se prontificaram para a pesquisa de adereços e para a confecção deles. Isso serviu como uma importante ferramenta de pesquisa/ensino, pois possibilitou o entendimento de que moda é diferente de figurino, mas, ao mesmo tempo, ambos podem contribuir simultaneamente em seus processos de criação. Meu maior receio, naquele período, era ser o primeiro ex-aluno a “abrir” a porta da possibilidade de outros ex-alunos terem a mesma experiência que eu.
Logo, precisei entender a responsabilidade de executar um bom trabalho e mostrar para os alunos que ainda estavam no curso que não é uma pretensão fora do normal você ter a possibilidade de trabalhar em uma produção dentro da escola que lhe formou.
No período em que estive na escola (2013-2020), posso dizer que entrei de uma forma e saí completamente modificado. Pude compreender que o fazer teatral não acontece só dentro do palco (como meu eu ator, recém chegado a escola, entendia). Trabalhar com teatro extrapola a barreira do representativo e engloba toda a dinâmica do fazer da produção. Nenhum texto é dado em vão, assim como nenhum ponto é dado sem linha e agulha. Entrei menino miúdo, curioso e sai ainda menino (alguns dizem que não... rs). Porém, certamente mais ambicioso e corajoso para o que a vida tem pra me oferecer... crescimento é constante!
Falei, Costurei e arrematei!
Figurino 'Negros' - Foto: Edsel Duarte
'EIA' - Foto: Ariane Lazário
Edsel Duarte é ator formato pelo Teatro universitário da UFMG ( 2015 ) e Figurinista formado
pelo Curso de formação artística e tecnológica CEFART (2017). Atualmente, cursa Design de
Moda na Escola de Belas Artes da UFMG e atua na Cia. Teatral Solares desde o ano de sua
fundação (2006) .
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