CAROLINA DE PINHO
Direção Corporal:
"Há Algo de Podre no Reino da Dinamarca" (Cefar(t)) (2018)
"Fui professora de expressão e técnica corporal do curso de Teatro do Cefar(t) nos anos de 2018 e 2020. No ano de 2018 realizei a direção corporal do espetáculo “Há algo de podre no Reino da Dinamarca”, com direção de Rogério Araújo, uma montagem de encerramento dos alunos do 3º ano. Meu trabalho nesse espetáculo foi realizado de modo muito conectado aos alunos(as/es), direção, dramaturgia e a toda a equipe. Iniciamos pela escuta dos desejos de criação da turma, onde tive um primeiro bom encontro, pelo fato de muitos(as/es) se mostrarem interessados(as/es) em investigar o Ma, um conceito da cultura japonesa que se refere aos espaços entre, lugares de passagem, de morte e nascimento, vazios cheios de potência. Esse era um elemento que eu vinha investigando há alguns anos, em práticas, leituras e escritas, por influência de Dorothy Lenner e Takao Kusuno. Tal interesse me mostrou uma abertura da turma à escuta, sensibilidade, percepções e às transformações de si. O Ma não se tornou um tema dentro do espetáculo, mas se fez presente em nossos processos de criação. Procurei levar ao grupo processos criativos relacionados a trabalhos sobre si mesmos(as/es), à experimentação e escuta da própria corporeidade, no intuito de perceber, em camadas mais profundas, quais eram, naquele momento, as principais necessidades criativas de cada um, o que seus corpos diziam e pediam para ser expresso, bem como o que havia de micropolítico em tais necessidades, aparentemente individuais. Esses processos, bem como os de toda a equipe, alimentavam a construção da dramaturgia, realizada por Vinicius Souza. Do mesmo modo, a dramaturgia que se tecia alimentava novas práticas e processos criativos, que despertassem o envolvimento e engajamento de criadores(as) com a obra, pela via da corporeidade, dos afetos e sentidos. Nessa construção foram para mim muito importantes a presença e as trocas com Ana Hadad (direção corporal) e Thálita Motta (figurinos), por alimentarmos e sustentarmos juntas pontuações, reflexões e debates sobre os papéis que estavam sendo representados pelas mulheres no espetáculo, suas colocações em cena, trazendo juntas discussões políticas envolvidas nessas representatividades, que, a meu ver, potencializaram os lugares ocupados pelas mulheres no espetáculo. Um trabalho relevante para mim também, dentro dessa montagem, foi com o aluno Rafael Batista. Rafael possuía muito interesse e facilidade com a expressão pela via do corpo, e seu personagem expressava-se apenas corporalmente, reagindo aos acontecimentos da cena e interferindo nela, com inspiração no personagem Hamlet. Foi muito interessante desenvolver esse trabalho com Rafael, essa comunicação corporal que se instaurava, onde o mesmo reverberava toda a cena e os acontecimentos em seu corpo.
No ano de 2020 realizei a direção de um vídeo de mostra de processos da disciplina de Expressão e Técnica Corporal 1, realizada pela primeira vez de modo virtual devido à pandemia. O vídeo chamou-se 'Irresolução – Entre cantos de Joomla', e trouxe processos de trabalhos muito profundos, e sentimentos vivenciados nesses tempos tão difíceis, socialmente e politicamente, expressos sem censura pela via do corpo. Decidimos apresentar esse vídeo como mostra de processo por ser uma turma de primeiro período, para não impor a esses tempos finalizações que ainda não tiveram sua maturação." http://fcs.mg.gov.br/eventos/irresolucao-entre-cantos-de-joomla-video-dos-alunos-do-curso-de-teatro-do-cefart-registra-emocoes-vividas-na-pandemia/
Carolina de Pinho Barroso Magalhães é criadora e pesquisadora das artes do corpo, professora e preparadora corporal, atua nos limiares entre a dança, o teatro e a performance, interessada nas poéticas que envolvem a corporeidade, os trabalhos sobre si, as micropolíticas, e que transbordem os limites das linguagens do corpo, na busca pela coexistência entre técnica e expressividade, e pela sinceridade e autenticidade na criação. É doutoranda em Artes (Artes da Cena) pela UFMG, onde pesquisa o Butoh de Takao Kusuno, Mestre em Artes Cênicas: Processos e Poéticas da Cena Contemporânea (UFOP), onde pesquisou relações entre processos criativos do teatro de Jerzy Grotowski e da dança. É pós-graduada em Dança: Criação, Improvisação e Ensino (PUC Minas). Tem formações em dança, teatro e performance. Atualmente é professora substituta do curso de Dança da UFMG. Foi professora de expressão e técnica corporal do curso técnico de formação de atores do Cefar(t), professora e orientadora da residência artística do Palácio das Artes, do grupo de dança contemporânea da UFSJ, dentre outros locais. Em seus trabalhos mais recentes atuou como atriz no espetáculo de teatro documentário Territórios (Teatro 171), dançarina/atriz no espetáculo Variáveis Ocultas (Campanha de Popularização do Teatro e da Dança e Lei Municipal de Incentivo à Cultura), performer convidada no 12º Online Performance Art Festival, dentre outros.
Foto: Acervo pessoal
Última atualização: 14/07/2021