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A_GIRA, webkintais para compartir nuestras y otras Ydeas

Escrita desenvolvida coletivamente por Clara Fadel, Fabrício Trindade, e Marina Barros.



Quem lhe ensinou a nadar?

Foi o tombo do navio ou o balanço do Mar?

Ô marinheire, marinheire só. Certeza?

De nunca ter certeza! Ó o encher’svaziar.

Ó o Mar. (3)


A_GIRA – WEBKintal de Ydeas, como um prenúncio à Primavera, foi realizada durante o mês de setembro pela GIRA – Grupo de Investigação e Reflexão em Arte, do Projeto de Extensão Produção e Memória, do Teatro Universitário (TU) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Por seis noites (08, 10, 14, 21, 24 e 28 de setembro, de 19h30 às 21h30) as webkintais teleconectaram as artistas integrantes do grupo, us artistes convidades, alunes do TU e a comunidade em geral de interessados, que juntes efetivaram e exercitaram a escuta a fim de compartilhar e (re)conhecer as próprias, outras e distintas vivências. A criação desse efêmero cyberespaço, para o encontro e compartilhamento de existências, foi estabelecido a fim de inaugurar as atividades do grupo de investigação e reflexão em arte,


GIRA,


substantivu femenine


que ou aquele amalucade; doide, enlouquecide.

Deixa a gira girar deixa – Crédito: Marina Barros

O que temos? O que somos? Diz os postais: (4)

A gira pode ser festiva, de trabalho ou de treinamento,

para essa grupa, gira sempre foi e é a reunião dos três:

Festa, trabalho, treinamento. Trabalho, treinamento, festa. Treinamento, festa, trabalho


a mesma corpa que treina, trabalha, festeja,

não necessariamente nessas ordens.


um grupo de pessoas-artistas-encontro que se constitui, amplia e contamina a Vida

um compartilhamento de corpas-ideias-práticas em estado de movência espiralar

mirada adentro E


para além do campo teatral,

para além do campo artístico,

para além da criação de obras


encruza estudos e processos de invenção


direcionados para, em nós e em outres, potencializar


desejos,


aguçar percepções, ampliar sentidos e, sobretudo,


conectar multiversos.


tá me ouvindo? e agora? agora me escuta? melhor? um pouco melhor? e agora? me escuta? oi? oi? oi? consegue me ouvir? agora? tá me ouvindo? não me vê? como não? mas tá me ouvindo? tá me ouvindo mas não tá me vendo? não tá me vendo nem me ouvindo? ou tá me escutando? agora me vê?

Caiu, c l o voltou? tá aí? tá me ouvindo?

a t

i o

u


um possível ̶c̶o̶m̶e̶ç̶o̶ ̶p̶a̶r̶a̶ ̶o̶ diálogo

escutar as próprias ignorãças. (5)


Vídeo: Teaser exibido no início das webkintais. Edição: Fabrício Trindade e Marina Barros



A_GIRA - WEBKintal de Ydeas, por meio da investigação e criação em Arte, surgiu para criar e concretizar um espaço-tempo de comparticipação e, se constituiu a partir de um princípio elementar, um desafio-propósito: nós, pessoas-artistes, nunca estamos prontos, acabados, somos obra-processo, possibilidade e permanecemos impulsionados por dúvidas, questionamentos, provocações. O exercício potente de se perguntar, primeiro para si mesmo, depois para outres. Estar juntes fazendo a mesma pergunta, para buscar outras perguntas e não uma resposta. Iniciamos nossas cyberconversas, com as artistes convidades, abrindo os sentidos aos inimagináveis caminhos-narrativas por meio das perguntas


quais são as perspectivas que experimenta ao efetivar suas ações no mundo?

quais vestígios de memória do caminho já percorrido que, de alguma maneira, são estruturantes para sua práxis?

quais especificidades encontra na relação entre as invenções que elabora com o espaço “rua”?

quais são os enfrentamentos (podem ser favoráveis à e/ou desafios) que se depara ao estabelecer suas práticas, seus modos de fazer/pensar/elaborar/criar?

quais maneiras acredita que suas criações e elaborações (artístico-reflexivas) contribuem ou subvertem as narrativas sobre os contextos (cidade, país, continente) onde vive?


Perguntar para ouvir, desdobrar, rachar, fender, abrir

abrir e encontrar formas outras possíveis de fazer.



Perguntar para compartilhar, desconfiar,

perceber, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir o infinito.



Perguntar para encruzar conhecimentos experimentados em território América Latina, dessa forma nomeado pelos sucessivos apagamentos e silenciamentos ocorridos nos processos da colonização.


Imagem: Marinheiro, barco furado, de Fabrício Trindade, a partir de recriação poética da cantiga popular Marinheiro, só.

Assumimos nossas perguntas implicando-as à construção política da história deste continente, implicando-as aos processos de colonização aos quais fomos e somos submetidos. Assumimos nossas perguntas como forma de reivindicar a construção de nossas identidades, localizadas, desde aqui, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. A gira de kintal se abriu não como a única, mas como uma das várias formas que emergimos encontrar para a re-existência de corpas inconformadas, desobedientes, que não conseguem escapar E não conseguem seguir em frente ilesas de Arte. Arte que mete os cotovelos e abre as brechas, daquelas que sentam no meio fio e sem preciosismo reivindicam existir: com inteireza, com generosidade, com vontade, em companhia, com companheires.


as redes e as tramas

tra’amando


tramoia, corpas-árvores,


fortalecer raízes, galhos, folhas, frutos e flores


livres, que se espalhem ao vento.



Imagem: Sobre as webkintais, diagrama. Edição e organização: Fabrício Trindade e Clara Fadel. Este diagrama é um compilado livre que reordena us artistes convidades que participaram das conversas. Para saber mais e conferir a programação normatizada, descritiva, da A_GIRA entre no instagram do Teatro Universitário, @teatrouniverstario.ufmg.

Nossas webkintais se fizeram com

performers, grafiteiras, cineastas, artistas visuais, poetas, teatreiros, escritores.

Nossa Gira, obra-processo, começou a se fazer com estas pessoas-artistas,

da rua, da vida para expandir olhares, fazer conexões com outras formas de arte e existência.


Como uma rede de pescar, estamos criando nossas tramas e tecendo essa teia extensa por meio e em companhia de múltiplas existências. Corpas que falam vários lugares-geográficos e expressam distintos relevos, perspectivas diversas por/sobre o mundo. Partimos, inicialmente, do campo do Teatro e, compreendendo, respeitando e levando conosco o espaço que estrutura, fundamenta e possibilita nossa existência, o Teatro Universitário/UFMG, estamos nos lançando ao vento. Temos consciência que a atmosfera em que vamos (in)ventar urge a defesa, a expansão e a (re)existência de Arte.


Arte manifestada: estar em gira.

Reivindicar existir, ocupar espaços, abrir os braços para não ser deglutido.

Ser encontro, livre expressão artística, expandir tramas e, juntes, encher nossa rede-corrente para

desaguar (em) outros mares.

Transbordar.


Imagem: É tudo nosso, é tudo nosso de Fabrício Trindade, a partir da fotografia The Versatile Jean Cocteau, 1949, de Philipe Halsman, do mapa Terra Brasilis, 1519, de Lopo Homem e do desenho Chef Camacan Mongoyo, 1835, de Jean-Baptiste Debret.
 

GIRA – Grupo de Investigação e Reflexão em Arte - Localizado no âmbito da extensão universitária, o grupo de pesquisa GIRA foco nus alunes egresses do T.U. Vislumbra-se que, a cada ano, o grupo se adapte à realidade da turma, produzindo e elaborando um percurso didático-pedagógico que desenvolve sua metodologia, não ignorando o que foi feito anteriormente, mas absorvendo as demandas e outras necessidades dus alunes integrantes da edição atual. Essa perspectiva, consonante à trajetória já realizada, desde o elenco dos "Os Negros", montagem do ano de 2017, e será o elo entre a formação experimentada nos três anos de formação e o “mundo” externo após a formatura, garantindo mais efetividade na inserção no mercado de trabalho de artes. Esta proposta inédita para o T.U, tem como propósito investigar, refletir e inventar possibilidades de criação artística, vislumbrando efetivar uma proposta de formação continuada, que gere maior alcance entre us alunes egresses do Teatro Universitário e, ao mesmo tempo, garanta mais qualidade nessa permanência de formação às alunes no ano seguinte à formatura. A concepção geral foi elaborada em parceria com Fabrício Trindade, diretor do último espetáculo de formatura (2019), responsável por construir a metodologia e a proposta pedagógica que tem um caráter experimental (consideramos essa primeira edição como um “piloto”). Mas que, sobretudo, já se mostra como mais um espaço para potencializar a formação profissional de um artista no campo das artes cênicas.


Equipe GIRA - Artistes pesquisadores: Adriana Carla, Clara Fadel, Jéssica Pierina, Marina Barros, Saulo Calixto e Thais Eduarda; Direção Geral e Concepção Pedagógica: Fabrício Trindade; Direção de Arte: Tereza Bruzzi; Assistência de Direção: Clara Fadel; Coordenação de Produção: Jefferson Góes; Produção: Analu Diniz, Clara Fadel, Gabriela Freitas e Marina Barros.

 

Referências e algumas notas de fim


1. Imagem da capa: Gravações de tela dos dias das webkintais. Os retratados são integrantes da Gira e as pessoas que compareceram para as conversas. Crédito: Marina Barros. O texto inserido é uma recriação de Fabrício Trindade, a partir da epígrafe do livro Crônicas de nuestra América (1977), de Augusto Boal. Boal, Augusto. Estas são todas histórias verdadeiras. In Boal, Augusto. Crônicas de nuestra América. Rio de Janeiro, Codecri, 1977. p.9.

2. Us três artistes são integrantes da GIRA. Fabrício Trindade foi diretor do espetáculo de formatura, no ano de 2019, +55. Ele é responsável como professor-artista convidado para orientar as atividades do grupo de pesquisa e foi quem fez a criação e concepção geral do projeto para a criação da pesquisa. Assim como é responsável pela curadoria e idealização das webkintais. Clara Fadel trabalhou como Monitora na montagem do ano passado, fazendo assistência de direção e neste ano permanece desempenhando a mesma função no grupo de pesquisa e Marina Barros foi atriz integrante do elenco de +55, trabalha na equipe de produção da extensão do T.U/UFMG. Us três juntes, juntes a Fabiana Santanna e Flor Bevacqua, foram responsáveis pela mediação nas webkintais.

3. O poema é transcriação de Clara Fadel e Fabrício Trindade, a partir da cantiga popular Marinheiro, só e de fragmentos registrados a partir das conversas ocorridas nas webkintais.

4. Apropriação e recriação do trecho da dramaturgia do espetáculo de formatura do TU, de 2019. Cena A família fronteira. Dramaturgia coletiva e direção de Fabrício Trindade.

5. No Livro das ignorãças, publicado em 1993, Manoel de Barros desvenda o caminho que o leva à criação poética. Como aparece no título do livro, a primeira etapa consiste numa valorização da ignorância, que lhe permite inverter os valores tradicionais, erigindo o esquecimento em sabedoria. Ao mesmo tempo, o poeta exprime no Livro das ignorãças, como no conjunto da sua vasta obra poética, a sua vontade marcada de regressar às origens do Homem. Assim encontra-se apto para fazer nascer “delírios frásicos” e atingir, numa renovação do olhar sobre o mundo que o circunda, os deslimites da palavra. HEYRAUD, Ludovic. As ignorãças do poeta brasileiro Manoel de Barros: entre sabedoria do esquecimento e memória das origens. In: Navegações. V. 3, n. 2. Porto Alegre, jul./dez. 2010. P. 143-147.

 

Clara Fadel é atriz, formada pelo Cefart (fev/2014 a dez/2016), também passou pelo curso profissionalizante da Puc Minas (2013). Hoje cursa o 7º período de Licenciatura em Teatro na UFMG. Em 2017 trabalhou como Arte Educadora no CCBB-Belo Horizonte. Atua no coletivo de teatro Transborda, formado por artistas e pesquisadores que questionam as fronteiras de gênero através do riso, da performance e da carnavalização.



Fabrício Trindade é artista da cena sudaca e desenvolve sua pesquisa a partir do hibridismo entre as linguagens das artes presencias teatro, performance, artes audiovisuais, música. Doutorando em Artes da Cena na Eba/Ufmg, orientação Monica Ribeiro. Mestre em Estudos Literários pela Fale/Ufmg, orientação Sara Rojo. Licenciado em Teatro pela Eba/Ufmg. Professor e desenvolvedor de projetos de criação junto ao Teatro Universitário/Ufmg, desde o ano de 2018. Integrante do Mayombe Grupo de Teatro, é também colaborador e parceiro de vários grupos e coletivos de Belo Horizonte, onde desenvolve trabalhos cênicos relacionados às diversas áreas artísticas. Integrou o Grupo Oficcina Multimédia de 2008 a 2012, desenvolvendo trabalhos como ator, produtor e preparador corporal.

Marina Barros é atriz é formada pelo Teatro Universitário da UFMG, improvisadora e videomaker. Atua em montagens cênicas como atriz e produtora, desenvolve projetos audiovisuais de vídeo-marketing, documentários, filmes-registros e webseries. É produtora de conteúdo e social media do Teatro Universitário da UFMG, desde 2018.




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