top of page

EM MEIO AO CAOS, A CRIAÇÃO CONTINUA, PORQUE “RESISTIR É OCUPAR ESPAÇO”

Por Coletivo Amapola


“Quando foi a última vez que você olhou ao redor? Quando foi a última vez que você olhou pra dentro?”

Esta é a provocação que o projeto AMOR MANIFESTO OU POEMA DA PEQUENA MORTE propõe ao espectador. Uma viagem pelos extremos do ser e do estar.


Ensaio aberto - Anhangabaú - Foto: Lucas Vedovoto

O Coletivo AMAPOLA de Teatro e Poesia Urbana, um grupo teatral paulistano e independente, formado em 2015 por artistas com o forte desejo de falar de afeto, de olhar pra cidade de São Paulo e para o que os muros, o concreto, o caos diário e a arte pintada de cinza dessa cidade tem para nos contar, desenvolveu, entre julho de 2019 e outubro de 2020, o projeto AMOR MANIFESTO OU POEMA DA PEQUENA MORTE, contemplado pelo edital PROAC-ICMS da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo em agosto de 2018.

Uma das principais ações da proposta seria a apresentação do primeiro espetáculo autoral do grupo, Amor Manifesto Ou Poema Da Pequena Morte, em Escolas Estaduais de Ensino Médio e EJA, se não fosse a pandemia da covid-19, fazendo o coletivo reformular seus planos e realizá-los remotamente, por meio dos canais digitais: Instagram e YouTube.

Mas, toda essa reviravolta só potencializou o grupo que, a partir de julho de 2020, passou a produzir um vasto material digital a fim de atingir não só o público esperado, os jovens das escolas estaduais de São Paulo, mas qualquer pessoa, de qualquer idade, de qualquer localidade do país e quiçá do mundo, que quisesse refletir, sentir, cantar, ouvir, imaginar o afeto, que quisesse olhar ao redor, olhar pra si...


E como olhar e sentir em meio ao caos de uma pandemia, não é?

Ensaio aberto - Santa Cecília - Foto: Gabriel Zanetti Pieroni

Foi principalmente movidas por esta pergunta que as ações foram ganhando corpo. Primeiro, o grupo iniciou em 18/07/2020 a “Oficina de Escrita Criativa – Laços de Afeto”, aberta ao público em geral, com a dramaturga e atriz do coletivo, Lis Ricci. Os encontros terminaram em meados de Agosto e propuseram trabalhar aspectos da escrita dramatúrgica, poética, literária, da observação de mundo e da auto expressão. O intuito foi o de criar um espaço seguro para a experimentação, sem empregar o conceito de erro, permitindo que o prazer da escrita fluísse e pudesse deslocar participantes e mediadora, partilhando da experiência que é o próprio estimular e compartilhar.

No mesmo mês, em 26/07/2020, lançaram o primeiro trabalho da série “Pílulas Poéticas”, pequenos vídeos produzidos pelo coletivo durante o período de isolamento social para trazer a poesia e a reflexão do espetáculo para o público, utilizando a dramaturgia de Lis Ricci como base. Como não foi possível o ao vivo, usaram os canais virtuais para ressignificar, na realidade que lhes cabia, os assuntos discutidos na peça: os encontros, os olhares, a sociedade vazia de afeto e, agora, isolada.

Em 23/08/2020, lançaram, no canal do Youtube, o vídeo completo do ensaio aberto do espetáculo Amor Manifesto Ou Poema Da Pequena Morte apresentado na Próxima Cia, em fevereiro deste ano. Essa ação permitiu que, de alguma forma, a peça, que não pode ter sua estreia ao vivo, chegasse às pessoas.


Ensaio aberto - Espaço Galpão do Folias - Foto: Gabriel Zanetti Pieroni
Ensaio aberto - Espaço Casa da Gioconda - Foto: Malu M. Castro

Em setembro, estrearam uma das mais potentes ações reestruturadas, o mini documentário “Um olhar pra dentro, um olhar pra fora: MINIDOC AMOR MANIFESTO OU POEMA DA PEQUENA MORTE”, um material documental, artístico e pedagógico com gravações dos ensaios, oficinas e dos ensaios abertos ao público, realizados antes do isolamento, acrescidos de gravações durante a pandemia sobre o pensamento do grupo acerca do agora e o futuro. O material percorre a relação entre arte, trabalho e sociedade moderna; espaço privado: afetividade, solidão e isolamento social; espaço público: mobilidade urbana e nossos corpos em relação à cidade; rumos para o teatro e a arte urbana a partir de uma nova realidade de afastamento social. Ele vem como uma tentativa de revigorar questionamentos, afetos e trocas, uma ação que pode ser bastante relevante neste período. Esse material foi enviado às Escola Estaduais de Ensino Médio e EJA da cidade de São Paulo, mas a ideia é que seu uso seja livre, para quem quiser refletir e discutir o que nos espera daqui por diante.

As duas últimas ações do projeto foram realizadas praticamente juntas: no fim de setembro e início de outubro, foram postadas as Collabs, uma série de colagens de vídeos colaborativos produzidos em casa para apresentar as músicas que compõem o espetáculo, canções estas que também são dramaturgia e ajudam a cantar e contar a história da peça; e foram feitas duas Lives, através do ao vivo do Instagram do coletivo, sobre o processo criativo da montagem: leitura dramática de passagens do texto, algumas canções, memórias, as dificuldades de se criar um trabalho à distância e também conversa com as/os artistas que auxiliaram na produção do figurino, preparação corporal, cenário, direção musical, relembrando o processo e pensando nos caminhos a seguir a partir do “novo normal”.

Não são tempos fáceis, não estamos vivendo o melhor dos períodos, sabemos que está cada dia mais sufocante, não só pela pandemia e as questões de saúde, mas pelas decisões políticas que estão sendo tomadas, pela desigualdade cada vez maior gritando em nossos ouvidos e saltando aos olhos. Não é simples olhar ao redor, olhar para o entorno e falar de afeto com tudo isso.

No entanto, o espetáculo Amor Manifesto Ou Poema Da Pequena Morte quer trazer essa possibilidade: nem tudo é cinza, que possamos voltar a acreditar que as cores podem sim restaurar o estado de vigor de que precisamos para seguir, para enfrentar, pra lutar “porque amor é luta e luta não se faz sozinho” (Ricci, Lis. Amor Manifesto Ou Poema Da Pequena Morte).


Para conhecer os conteúdos aqui citados, acesse:

Sobre o espetáculo Amor Manifesto Ou Poema Da Pequena Morte:

Inspirados pela fábula A Cigarra e a Formiga, o coletivo questiona em que momento da vida somos um ou outro, como o cotidiano nos contagia e cega, ou quando o amor e o afeto nos despem e trocam nossa pele. No espetáculo, a Cigarra e a Formiga se encontram em um acaso cotidiano. As ruas viraram palco, as paredes grandes quadros pintados de sonho e cor.

Nessa narrativa, a relação dessas personagens questiona o olhar corriqueiro e sistemático da Formiga, propondo uma nova forma de perceber o mundo. Tudo isso através dos olhos ávidos de um coletivo de artistas que grita, que canta, que pinta e que conta essa fábula a partir das paredes cinzas.

Mas, como funcionaria essa narrativa e esses olhares pensando no hoje, dentro de casa, nesse isolamento social?


Ficha Técnica:


Espetáculo: Amor Manifesto ou Poema da Pequena Morte

Elenco: Caroline Oliveira, Filipe Celestino, Lis Ricci, Priscila Ortelã e Thiago Mota

Texto: Lis Ricci

Direção: Lilian de Lima

Produção: Lucas Vedovoto

Assistência de produção/divulgação: Priscila Ortelã

Arte Gráfica: Filipe Celestino

Cenário: Julio Dojcsar

Lona: Luma Yoshioka

Figurinos/adereços: Silvana Marcondes, Gizele Panza e Larissa Miyashiro

Direção Musical: William Guedes

Preparação corporal: Uil Braga

Edição de vídeo: Lilian de Lima

Edição de áudio: Thiago Mota

Captação de imagem do ensaio aberto: Clarissa Camargo

Músicas: “Vem” – Marcelo Zorzeto; “Não existe amor em SP” – Criolo; “Sou Bicho” - Marcelo Zorzeto; “Coração Realejo” – Filipe Celestino, Lis Ricci, Thiago Mota e William Guedes; “4 da manhã” – Criolo; “Estancando Lágrimas” – Marcelo Zorzeto.

Produção: Coletivo AMAPOLA de Teatro e Poesia Urbana e ProAC ICMS.

Realização: Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.

Patrocínio: Freudenbeg-Nok Componentes Brasil.



Ensaio aberto - Espaço Casa da Gioconda - Foto: Malu M. Castro
Ensaio aberto - Espaço Galpão do Folias - Foto: Gabriel Zanetti Pieroni

Clique aqui


 

O Coletivo AMAPOLA de Teatro e Poesia Urbana é um grupo independente da cidade de São Paulo, composto por artistas e colaboradores egressos da Universidade Estadual Paulista – Unesp, da Escola Livre de Teatro – ELT, da Escola de Arte Dramática (EAD) e de outros espaços de formação não institucional ou acadêmica. O coletivo começou a se reunir em 2015, inicialmente por dois artistas, Filipe Celestino e Lis Ricci, que se revezavam entre a cena, a direção, a produção e a escrita.

O motivo da união dos artistas que hoje se encontram no coletivo foi a vontade de falar sobre afeto, sobre a empatia e a resistência da sensibilidade por meio da arte. Um primeiro trabalho, A Cumplicidade das Cigarras, foi montado de forma completamente independente e levado ao 10° Festival Mundo, em João Pessoa – PA, em 2015. Com texto da dramaturga Lis Ricci e direção de Filipe Ramos, ambos em cena, este primeiro trabalho foi o embrião para a segunda peça do Coletivo, AMOR MANIFESTO ou poema da pequena morte.

O processo de criação desse segundo espetáculo foi longo e possível a partir do edital ProAC-ICMS. Teve seu fim em 2020 contando: com dois ensaios abertos (sendo um no mês de julho/2019 no Galpão do Folias e o segundo em fevereiro de 2020, na sede da Próxima Cia) e atividades educativas e artísticas online (em adaptação compatível com a nova realidade imposta pela pandemia), incluindo Oficina de Escrita Criativa, mini documentário sobre o espetáculo, criação de material pedagógico a partir da peça, collabs das músicas da peça, lives sobre o processo de criação e pílulas poéticas a partir de passagens do texto.


102 visualizações0 comentário
bottom of page