Por Iara Lima
Começo esta conversa refletindo sobre umas das definições a respeito do papel do ator de Jerzy Grotowski, onde ele diz que “[…] tudo no palco é mais ou menos supérfluo, com a única exceção: o frente-a-frente de um ator com espectador”. E seguimos sempre neste pensamento, de um modo geral, mas acreditamos que o ator é o principal dentro de um contexto teatral. Onde a definição da palavra teatro vai para ver, onde se vê as ações.
Já o contador de histórias está na humanidade desde os tempos primórdios, pois a função de narrar histórias na forma dos bobos da corte, xamãs, bardos, viajantes, tecelãs, lavadeiras, viajantes, jograis, mestres e tantos outros.
Mas onde se encontra o ator e contador de histórias se os dois, na maioria das vezes, trabalha com a palavra e seus desdobramentos? Na minha percepção, o ator representa e faz da palavra (ou não) a sua arte . O contador de histórias leva o espectador a imaginar as ações na descrição de palavras com entonações e o uso da voz.
Tanto o ator como contador de histórias utilizam das mesmas ferramentas para apresentar seus trabalhos, mas não todas. Já o livro “Léxico de Pedagogia do Teatro”, sob coordenação de Ingrid Koudela e José Simões Almeida Junior, cita também a definição do ator narrador, que já começa a sua definição com “todo ator é um narrador”. A especificidade deste, a quem se tem chamado de “narrador” , está vinculado ao texto que enuncia, cujas características mais evidentes são o fato de não se constituir totalmente em diálogo — o que vai promover a fusão e/ou fricção entre dois mundos, o épico e o dramático — e de ter no espectador um ouvinte assumido.
Na atualidade, as artes não estão mais num quadradinho. Elas se misturam, se conversam e se completam. E as duas artes, embora sejam separadas, se completam, enriquecendo uma a outra. A forma de se fazer e realizar cada arte vai muito da pesquisa, da construção e do que o trabalho requer naquele momento.
Estamos sempre contando histórias, no dia a dia e nas nossas ações. Até mesmo quando acabamos de assistir uma peça teatral, ao sairmos do espetáculo, contamos aos amigos e familiares o que assistimos. O que é este fato se não uma contação de história? De que forma narramos (ou contamos) e quais elementos iremos utilizar, se não as ferramentas da arte dramática? O aprimoramento da contação de histórias requer estudo e apropriação da mesma. Estudamos não apenas um personagem, mas todo o contexto. O ator também, além de estudar o seu personagem, estuda a história dele. Mas por que ainda muitos do mundo artístico citam a contação de história com algo menor ou menos importante? Esta conversa é, portanto, para valorizar as duas artes. Uma conversa que não se encerra, pois teremos sempre este ponto a destacar: todo ator conta uma história, e todo contador também é ator.
Referências bibliográficas:
KOUDELA, Ingrid Dormien; ALMEIDA JUNIOR, José Simões de; COUTINHO, Eduardo Tessari; et al. Léxico de pedagogia do teatro. [S.l: s.n.], 2015.
Iara Lima possui trinta e seis anos de vivencia teatral , vinte e três anos de coordenadora do Grupo Faz de Conta, pioneiro na cidade de Campos dos Goytacazes . Graduada em Bacharel de Turismo com extensão em Arte e Cultura . Cursando Licenciatura em Teatro e pós em contação de história . Com o Grupo Faz de Conta, ganhou 33 prêmios e
indicações em festival nacional, estadual e regional . Participações no Encontro
Nacional em Santa Barbara do Oeste, Simpósio de Contadores de História e no Encontro de Contadores de História. Ganhou destaque como incentivadora de leitura no projeto Brasil que lê em 2021 pelas lives de 2020/2021 do História das Histórias.
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