Por Alice Cabral e Thiago Queiroz
“Quando se separa o riso da inteligência, a gargalhada vira um relincho, o riso há de ser inteligente.”
Deixamos, neste texto, algumas frases que descrevem o trabalho desenvolvido pelo Mestre Limoeiro, “Rindo se conserta os costumes”. O trabalho da “Trupe a torto e a direito” tem como ferramenta principal o texto, essa dramaturgia que é uma grande aliada para a mobilização social. O riso é destacado, pois a dinâmica dos textos direcionada pelo mestre tem aquele gostinho e aquela comicidade do Nordeste que ele carrega em seu sotaque.
“O riso é avassalador, é instrumento de educar e contestar, sendo que, para tudo, existe bom senso e bom gosto, contando que fazer rir não é fácil.”
Fica registrado, aqui, o bordão designado a esse trabalho: “O nosso objetivo é educar divertindo e divertir educando”. Ainda que trabalhando temas desafiadores para a população, não podemos deixar que o trabalho artístico do grupo seja difícil de lidar. Por isso, a nossa tarefa é a sensibilização prévia, identificar a complexidade do problema para gerar reflexões e incentivar mudanças. O teatro, nesse processo, funciona como comunicação, funcionando, também, como forma de mobilização, de luta e de transformação.
No período em que estivemos na Trupe, escutamos diversas histórias do Limão desde a época de Limoeiro, os encontros com os amigos, as apresentações da trupe, entre tantas outras histórias. Confesso que a que eu mais gostava eram as de sua mãe Inácia. É sempre muito agradável escutar seus casos. Cresci profissionalmente com experiência vivenciada na trupe, que foi minha segunda formação, para além do Teatro Universitário. Acredito que o Mestre Limoeiro tem uma personalidade em Verso e em prosa, contador de casos (e dos bons), passa para as pessoas a intensidade da realidade de um texto, seja aquela característica marcante o riso, como de um cordel, riso cativante que desarma qualquer mau humor.
De Limoeiro à Minas,
Fernando Antônio de Melo
Trouxe consigo a rima
De cordel meio singelo
Seu teatro brasileiro
Conhecido é modelo
Traçando sua trajetória
da sua arte com zelo
O seu jeito arretado
Nos traz muita diversão
Quem faz Teatro com ele
Entende sua visão
Seja revolucionário
“Teatro é só com paixão”
Quem escuta essa frase
Atua com o coração
Em 2020, realizar um trabalho artístico não foi fácil para nenhum artista. Ainda assim, fazer “teatro de longe como se fosse de perto” (nome dado ao esquete que foi desenvolvido neste ano, contando sobre essa dificuldade de se fazer teatro que é uma arte de contato) foi o maior desafio, sendo que o riso, principalmente nesse momento difícil de pandemia, precisa estar mais presente do que nunca.
O teatro da trupe exige entrega e dedicação do ator para termos um produto inteligente, pois a luta continua: é mobilizando que se transforma.
Num dado momento, Limão esteve conosco, nos dirigindo e nos dando força, mostrando que o teatro não pode parar e ainda: o teatro vive na trupe a torto e a direto.
Sobre a Trupe a Torto e a Direito
Com mais de 20 anos de existência, a Trupe a Torto e a Direito surgiu com o intuito de ser a voz do programa Polos de Cidadania, da Faculdade de Direito da UFMG em parceria com o Teatro Universitário. Logo na época da fundação do programa, coordenado pela professora Miracy Gustin, o professor Limoeiro foi convidado para a experiência de um ano à frente do grupo teatral. Bom... o que era pra ser um já virou quase 30. Com muita luta, suor e sonho, esse professor, diretor, dramaturgo, bonequeiro, palhaço, brincante, cordelista (e por aí adiante…) vai levando a cidadania de forma lúdica e poética para todos os lugares que é chamado. Seja no mais rico estabelecimento, até a cidadela de um só quarteirão no interior. Seja para um teatro lotado ou uma sala de aula com 10 alunes, a dedicação de sempre fazer um ótimo espetáculo será a mesma para todos os espaços.
Quem já trabalhou na Trupe (e não foi pouca gente) sabe o quão rico é o aprendizado lá dentro e o quanto o Limão luta para mostrar que o Teatro tem força para conscientizar as pessoas. Lá, descobrimos que um palhaço, um boneco de mamulengo e um cordel podem muitas vezes salvar o dia de alguém, quiçá uma vida... E só quem já tomou uma limoeirada sabe que esse senhor é capaz de incendiar a sua alma com uma chama inacabável que ele tem: a paixão pelo que faz.
Eu, Thiago, quando penso em Fernando Limoeiro penso em um pai teatral, um amigo, um mestre e um Dom Quixote nordestino. Já são sete anos de convivência como seu aluno, ator e monitor. A cada dia que passo com ele, é como uma nova aula mais rica que a anterior.
Alice Cabral é atriz formada pelo teatro universitário da UFMG, foi pesquisadora na trupe a torto e a direito do Programa Polos de Cidadania no ano de 2017 a 2020 desenvolvendo teatro de mobilização social com base nos direitos humanos. Atualmente, estuda violino e cursa música com habilitação em musicoterapia na UFMG.
Thiago Queiroz é um ator e músico belorizontino. Formado pelo teatro universitário da UFMG e escola de teatro PUC Minas, iniciou seus estudos no programa valores de Minas em 2007. Foi ator-pesquisador na Trupe a torto e a direito do programa Polos de cidadania de 2014 a 2019 e atualmente estuda licenciatura em Teatro na UFMG e é monitor do professor Fernando Limoeiro no teatro universitário desde 2018.
Que felicidade conhecer um ser tão iluminado e sensível, que orgulho de você Limoeiro, parabéns pelo trabalho,
Raio-X perfeito de um grande irmão que muito me orgulha. E de um grande artista. Justa e brilhante reverência. Obrigado pelo presente.