POR LEONARDO ROCHA
O Maria Cutia é, essencialmente, um grupo de teatro de rua. Durante nossa trajetória de 14 anos, construímos também espetáculos para palco, mas nossa raiz está na rua. Temos uma sede, a Toca da Cutia, onde ministramos oficinas, fazemos encontros, apresentações e ensaios. É nossa segunda casa, onde os desejos se estruturam para serem realizados.
Viver uma experiência coletiva de gestão, artística e empresarial, nos remete a uma natureza pouco habitual em outras profissões, mas que no teatro é algo quase inerente: a amálgama entre produção e apresentação artística.
Nestes tempos de pandemia, essa junção se amplia. A necessidade de reinvenção do teatro para os meios virtuais, mais especificamente os que trabalham com vídeo, é patente e inevitável. Assim, experiências anteriores - como a que o ator Leonardo Rocha teve como diretor de curtas-metragens – ajudam a pensar formatos de uma abordagem complexa como a de agora, já que teatro não é cinema e vice-versa.
O Grupo Maria Cutia está com sua sede temporariamente fechada, não ensaiando ou produzindo por lá. Tudo é feito de forma remota: escrita de editais; reuniões; execução de projetos; adaptações para o vídeo; e criação de outros a partir dos projetos aprovados.
Concomitante a isso, em agosto, o grupo ministrou o curso de palhaços “Terçalhaça”, com duração de 3 meses. Essa é uma ação inédita para o grupo, já que o curso será 100% online. Descobrir formatos para a linguagem do palhaço, que é essencialmente presencial e pesquisada pelo Maria Cutia há tantos anos, é um desafio, mas também, porque não, uma inquietação artística de sobrevivência criativa.
Mostra de criações dos palhaços do curso online "Palhaçadas de Segunda", com orientação artística da Mariana Arruda.
Atualmente, estamos no processo de montagem de nosso novo espetáculo, “Aquarela”. Esta obra será um show-cênico. “Aquarela” será nossa segunda obra pensada para o público de crianças - a primeira foi “Na Roda”, há 14 anos no repertório do grupo. O espetáculo terá a direção geral do professor da UFMG, músico, ator e pesquisador da produção artística feita para o universo infantil, Eugênio Tadeu.
Com canções autorais, a ideia da peça é subverter os temas comumente abordados em criações para o público de crianças, sobretudo aquele da chamada “Primeira Infância”, que vai até os 7 anos. Durante todos os anos do Maria Cutia, a música foi/é fundamental para as suas criações. E, aqui, note-se que há uma diferença entre “para suas criações” e “nas suas criações”. A música, a composição de melodia e letra, sempre é o marco central criativo do grupo. Nunca se começou um espetáculo na cena sem antes passar pela canção. A maior parte das composições executadas ao vivo pelo grupo é autoral, daí a importância como dramaturgia dentro da peça numa pesquisa denominada pelo Maria Cutia de música-em-cena.
AUTO DA COMPADECIDA
Texto de Ariano Suassuna Concepção e Direção Geral de Gabriel Villela
Sinopse: As aventuras picarescas de Chicó e João Grilo que começam com o enterro e o testamento do cachorro do Padeiro e de sua Mulher e acabam em uma epopéia milagrosa no sertão envolvendo o clero, o cangaço, Jesus, Maria e o Diabo.
Elenco: Leonardo Rocha, Hugo da Silva, Mariana Arruda, Dê Jota Torres, Malu Grossi, Marcelo Veronez e Polyana Horta
Composição da música: Sérgio Morais Sampaio
O Maria Cutia é um grupo que pesquisa linguagens populares, que busca dialogar diretamente com o espectador, não importando o tema ali tratado: é necessário comunicar. Assim, neste momento, o questionamento é sobre como sobreviver neste restante de ano sem apresentações presenciais, posto que o teatro foi um das primeiras profissões a parar as atividades e será, provavelmente, uma das últimas a retornar. Neste instante, tão habitado de relações virtuais, em que se deve evitar aglomerações, o desafio do teatro é sobreviver com coragem e resistência, já que sua função essencial é aglomerar pessoas.
Histórias Cutia - sobre espetáculos, turnês, ensaio, público, teatro e vida.
Com: Leonardo Rocha, Mariana Arruda, Luisa Monteiro, Hugo da Silva, Polyana Horta, Thales Ventura, Dê Jota Torres, Marcelo Veronez, Thiago Queiroz e vocês.
Acompanhe o grupo pelas redes sociais:
Leonardo Rocha é ator, palhaço, diretor e fundador do Grupo Maria Cutia. Em quase 15 anos de grupo, já se apresentou em mais de 180 cidades pelo Brasil, além de 5 países. Ministrou oficinas e fez apresentações em Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Angola e Cabo Verde. Em 2018, estreou o espetáculo solo "Engenho de Dentro", vencedor de 5 categorias do Prêmio Sinparc de Artes Cênicas: Melhor Ator, Melhor Diretor, Melhor Luz, Melhor Cenário, Melhor Espetáculo.
コメント