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TEATRO DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL

Por Janaína Starling


Saudações a todes! É uma honra ter a oportunidade de escrever num espaço importante como esse, onde estudantes e acadêmicos o acessam para se reciclarem, para trocar ideias e experiências, para aprender e reaprender.


Meu nome é Janaína Starling, sou atriz, formada no Teatro Universitário da UFMG em 2004 e com curso de Publicidade e Propaganda incompleto. Então, estou aqui para tentar mostrar um pouco da minha trajetória profissional, que, além dessas parcas formações, felizmente foi preenchida com inúmeras oficinas, cursos, workshops e experiências nas mais variadas vertentes e categorias artísticas, através desse texto aqui publicado.


Em 1997, quando ainda cursava Publicidade, me deparei com um anúncio de estágio, num grupo de mobilização e comunicação da PBH, mais precisamente da SLU ( Superintendência de Limpeza Urbana). Procurei os coordenadores do grupo, fiz uma entrevista com um deles e pronto; ali estava eu, começando a minha carreira, o meu propósito de vida, a minha missão e minha inspiração, a minha fonte de estudos e prazer: O TEATRO DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL.


Daniel Deleuse e Rodolfo Cascão foram os coordenadores artistas que abriram essa importante porta em minha vida, mas quero deixar registrado que, durante minha trajetória, encontrei vários mestres, artistas e inspirações para seguir adiante e que me ensinaram muito. Mas, para não correr o risco de esquecer alguém, inclusive pessoas que vieram antes de mim e/ou não conheci, vou me reservar o direito de citar apenas esses dois nomes que coordenavam o grupo “ Até TU, SLU” na época que eu entrei. Dois artistas bem diferentes, de linhas muito distantes, um brasileiro, outro francês, mas que fizeram coisas incríveis juntos e cujos ensinamentos e até equívocos seguem comigo até hoje.


Bom, então, desde 1997 trabalho com teatro de mobilização social. Só fui entender melhor o que significava essa nomenclatura depois que entrei no Teatro Universitário e fui entender primeiro o que era TEATRO e o que ele significaria para mim: TODA UMA EXISTÊNCIA. Concomitantemente, galgava os caminhos da música, do canto e da escrita, atuando em bandas, fazendo cursos e oficinas. Passei por várias secretarias na Prefeitura de Belo Horizonte, levando temas dos mais variados à toda população da cidade, através do teatro, da música e da poesia, através do toque, do sorriso, do olhar...



Atualmente, coordeno o grupo TEATRO MOBS , da SMASAC, ( Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania), além de atuar como atriz e dramaturga, desde 2005. Direitos do idoso(a), da mulher, das crianças e adolescentes, divulgação dos equipamentos do SUAS ( Sistema Único de Assistência Social) e fomento à conscientização política do indivíduo são alguns temas e objetivos que tratamos em nossos esquetes teatrais e intervenções artísticas. Ressalto aqui a importância de se trabalhar a consciência crítica com relação à política em geral e com relação às políticas públicas da cidade, pois só uma pessoa com essa consciência aflorada consegue enxergar melhor os caminhos que os governantes querem seguir e atuar efetivamente na sua construção ou desconstrução.


Além do universo da cultura popular brasileira, mais especificamente a cultura mineira, também bebemos muito na fonte do teatro político de Bertold Brecht e do teatro do oprimido de Augusto Boal, dentre outros. Na minha opinião, todo trabalho teatral é ( ou pelo menos deveria ser) um agente transformador, um convite à reflexão da sociedade em que vivemos, uma crítica, uma provocação, um ATO POLÍTICO. O Teatro de Mobilização, além disso, é uma ferramenta de formação, informação e transformação. E é uma ferramenta muito eficaz, porque mobiliza quem o assiste através de vários sentidos; mobiliza pelo texto e conteúdo, pelas cores, cheiros e sensações, pelo reconhecimento de si mesmo como parte inerente do todo. O teatro de mobilização também está presente no teatro empresarial, na performance, no teatro de rua...


No momento em que usamos a ferramenta cênica para traduzir algum assunto e mobilizar determinado público para esse assunto, assunto esse de interesse coletivo, o teatro de mobilização social acontece.

Nesses tempos de pandemia e de isolamento social, nos vimos diante de um grande desafio: fazer mobilização social virtualmente. Achar e descobrir um jeito, uma forma de tocar, de prender, em meio à tantas redes sociais, lives, blogueiros e youtubers profissionais e ainda manter a essência do teatro, da arte, da troca que acontece quando olhamos no olho do outro. Acho que estamos conseguindo, não sei, mas continuamos seguindo em frente, reinventando o teatro de mobilização social na medida do possível.


Belo Horizonte é uma referência nessa vertente de teatro, com vários grupos e artistas incríveis, que, através de sua arte e de seu trabalho, levam um possível mundo melhor, um dia melhor, um pensamento melhor a quem tem a oportunidade de assistir. Infelizmente, ainda não tem o lugar de destaque que merece. Hoje, depois de quase 25 anos de dedicação ao teatro de mobilização social, me tornei também, escritora de livros infantis, com 3 obras publicadas: “ O Medo e a Coragem”, sobre abuso sexual de crianças, “ A Alegria e a Tristeza”, sobre bullying e “ Cores de Comer”, sobre alimentação saudável, todos pela EIS EDITORA. Esses livros vieram da necessidade de criarmos esquetes com esses temas e acabaram virando livros... e depois esquetes de novo! (risos)




Para concluir essa explanação, queria lembrar que “muito importante é saber onde estar acordes” e “ esteja sempre aprendendo por nós e por você”, como bem escreveu um dia o grande teatrólogo Bertold Brecht.


Estou acordada, com acordes afinados e em desacordo com muitas coisas que estamos vivenciando ultimamente e quero sempre aprender, conhecer e reconhecer o nosso povo, nossa cultura e nossa arte, nós, povo mineiro.

Agradeço demais a cada um que cruzou meu caminho de alguma forma e a cada artista e educador que leva essa vertente da arte por onde passam. Vocês são essenciais. Peço ao Universo que essa pandemia acabe logo, para podermos voltar com nosso ofício de forma presencial, pois é assim que ele se torna completo. Tempos difíceis. Resistir. Re-existir. Para podermos voltar de novo a sentir no abraço da Doninha aquele cheirinho de fogão de lenha, sentir que somos blindados com o “ Deus te abençoe” sincero do Seu Joaquim, para me sentir especial depois de fazer o olho de uma criança brilhar, o sorriso de uma moça abrir, a coragem de um jovem aflorar ou me emocionar com aquela lágrima furtiva que caiu do rosto daquele homem que viu seus erros e sua história contadas em verso e prosa.


Espero ter aguçado quem leu de alguma forma. Espero ter contribuído com minha história e experiência. Se alguém quiser saber mais, estou à disposição para trocarmos e crescermos juntes. A história de uma sociedade é composta pela história de cada pessoa que a compõe, a minha é só mais uma delas e que ainda não acabou, como esse texto que está chegando ao fim.


Mas aos que estão chegando nessa estrada, aos que virão depois de mim, devo pontuar que até hoje tento entender por quê nós, atores de mobilização social, somos tão subestimados e desconsiderados. Por que uma ação tão eficaz não tem o devido reconhecimento, até mesmo pelos seus pares? Que força é essa que tenta sempre puxar para baixo algo que surgiu para voar muito longe e que alcança os mais sombrios e esquecidos espaços da humanidade?


Saibam que a luta é árdua, mas nunca inglória, nunca em vão. Felizmente. E para fechar, deixo essa frase do Mestre Augusto Boal, que talvez resuma bem o poder do teatro, e nesses tempos tenebrosos que vivemos, se fará melhor compreendida:

-“ O TEATRO É UMA ARMA, UMA ARMA MUITO EFICIENTE”.



15 de junho de 2021- Lagoa Santa- MG


 

Janaína Starling é atriz, formada no Teatro Universitário da UFMG em 2004, ganhadora do prêmio Sinparc 2005 como atriz revelação do Teatro infantil com a peça " Brincando na Terra de Gigantes " do grupo Deu Palla, além de ter atuado em várias peças teatrais no cenário mineiro e nacional e cursado e ministrado diversas oficinas e workshops na área das artes cênicas. Percussionista e cantora autodidata, ex-integrante da banda cênico musical Incrível Rúcula. Já participou de alguns curtas como atriz, assistente de direção e figurinista. Atualmente coordena o grupo de Teatro de mobilização social, TEATRO MOBS, da PBH. Escritora de livros infantis com 3 obras publicadas pela Eis Editora; " O medo e a Coragem ", sobre abuso sexual de crianças, " A alegria e a a tristeza " , sobre bullying e " Cores de Comer", sobre alimentação saudável.

179 visualizações1 comentário

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1 Comment


Maristela Knowles
Maristela Knowles
Oct 22, 2021

Muito bom, esclarecedor!

O que o teatro passa é emoção e sentimento, e o que se aprende através deles é o que fica intrinsico na nossa personalidade!

Maristela Knowles

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