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Produtor: a ponte entre os vários setores e agentes da cultura

Atualizado: 9 de dez. de 2020

Por Lucas Chiaradia


Meu nome é Lucas Chiaradia e, neste ano de 2020, completo oito anos na função de produtor cultural. Sou muito grato à profissão, pois ela me possibilitou muitas conquistas e ótimas experiências ao longo desses anos.


Minha área de atuação como produtor é o teatro. Porém, ao contrário do que muitos imaginam, não cursei teatro em nenhuma escola ou instituição. E é sobre minha formação e meu processo de inserção neste universo que irei tratar neste breve artigo.

Minha experiência artística está ligada à música. Estudo contrabaixo elétrico desde os quatorze anos (neste ano, me encontro com trinta e três) e cheguei a cursar três anos de trompete no CEFAR (Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado). Como músico independente, participei de vários grupos e bandas, e eu sempre era aquele que me preocupava com os processos que aconteciam antes e depois das apresentações.

Sem saber, eu já agia, de certa maneira e guardadas as devidas proporções, como produtor. No ano de 2012, eu trabalhava como professor de Geografia em uma escola estadual e, nas noites, tocava com grupos dos mais diversos estilos. Quando meu contrato com a escola acabou, eu decidi mergulhar de vez no cenário artístico. Conversei com minha irmã, que é formada em Teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais, e ela me disse que havia um amigo dela, produtor cultural, que estava à procura de um assistente de produção, e ela acreditava que eu seria a pessoa certa.


Sendo assim, peguei o contato do então colega e me ofereci para a vaga. Lembro-me de ele dizer que estava produzindo um grupo de teatro internacional (o Jobel, de Roma, Itália) e que precisaria de toda ajuda necessária. Aceitei o desafio e trabalhei durante as duas semanas em que o grupo permaneceu no Brasil para realizar apresentações em Belo Horizonte, em Ouro Preto e em São Paulo.


Foi uma experiência muito rica, na qual aprendi, na prática, muitas questões relacionadas ao fazer teatral, e “pegar o bonde andando” me fez desenvolver, ainda mais, uma qualidade que creio ser muito importante para a função do produtor: a proatividade.

Dessa produção em diante, me apaixonei pela função. Fui buscar, cada vez mais, inteirar-me de processos dos quais não tinha conhecimento e que seriam fundamentais para minha formação. Por exemplo, eu não tinha conhecimento do funcionamento das leis de incentivo à cultura, mecanismos importantes para o fomento cultural do país; não sabia como escrever um projeto; como fornecer informações técnicas; o que eu sabia era que eu queria saber mais.


No ano de 2013, matriculei-me em um curso de pós-graduação em Gestão Cultural no Centro Universitário UNA, durante o qual tive a oportunidade de estudar com excelentes professores e conhecer, mais profundamente, as políticas públicas, administração financeira, gestão estratégica, legislação relacionada à cultura, elaboração de projetos, entre outros assuntos. Além disso, estudei elétrica básica e montagem e operação de sistemas de áudio.

Naquela época, concluí que o produtor cultural deve ser aquele profissional que tem a visão do todo e, ao mesmo tempo, valoriza cada detalhe, pois ele é a ponte entre os vários setores e agentes da cultura.


Quando estava realizando minha formação em Gestão Cultural, tive o primeiro contato com um livro que virou meu livro de cabeceira durante muitos anos: “O Avesso da Cena – Notas sobre Produção e Gestão Cultural” de Rômulo Avelar. E, aqui, ouso afirmar que se você trabalha na área cultural, deve dar uma boa folheada nesse livro, ainda que por curiosidade.

Nele, há uma gama de informações relacionadas ao perfil do produtor, às relações que o produtor estabelece em seu trabalho, as principais ferramentas e muito conteúdo valioso para quem deseja seguir este caminho. Para mim, foi enriquecedor ler e me reconhecer em algumas qualidades e perceber que havia outras que tinha que desenvolver.


Creio ser muito importante que o produtor saiba falar a mesma “língua” que os personagens do fazer cultural.


Por isso, precisamos nos inteirar dos principais termos usados no meio e seus significados. E o mais importante de tudo: produtores lidam com pessoas. Precisamos muito delas e encontraremos as mais diversas personalidades.

Por isso, o produtor deve saber se comunicar bem, além de, é claro, saber lidar com questões adversas, pois é o que estamos, a todo tempo, fazendo: resolvendo questões, buscando soluções, sendo criativos.


Quanto às adversidades, nos encontramos em uma época bastante adversa para o fazer cultural, devido à pandemia de COVID-19 que assolou todo o planeta. Mais uma vez e, dessa vez, em níveis bem maiores, nós produtores nos vimos perante um problema que, de certa maneira, deve ser solucionado. Seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), que diz para controlarmos a curva de contágio para que os sistemas de saúde possam dar conta dos atendimentos, fomos aconselhados a nos isolar socialmente por um período ainda indeterminado. Para nós que vivemos de apresentações presenciais e ao vivo, toda uma agenda foi cancelada e vários trabalhos remarcados. Acompanhando o plano de reabertura e seguindo a uma ordem de prioridade, as apresentações culturais presenciais serão as últimas a serem retomadas, isso se não decidirem aguardar o surgimento de uma vacina eficaz, para que assim tudo se normalize.


Porém, quanto tempo isso levará? Como sobreviver até lá? Já têm acontecido apresentações em formatos de “Live” em diversas plataformas online e redes sociais, além de um formato “ressuscitado” de apresentações “drive-in”. Alguns editais de incentivo à cultura já estão se adaptando para que os produtores possam realizar suas produções nesses formatos. Vários profissionais estão buscando novas formações para também se adaptarem e superarem esta fase singular na história dessa geração. E nós, produtores, mais uma vez, nos vemos diante de um problema a ser resolvido de maneira muito criativa.


 

Referência

  • AVELAR, Rômulo O avesso da Cena: Notas Sobre Produção e Gestão Cultural. 2. Ed. Belo Horizonte: DUO editorial, 2010 490p


 

Lucas Chiaradia é produtor da lima produções e do O Trem cia de Teatro , é pós graduado em gestão cultural . Em seu currículo podemos listar trabalhos de produção para os espetáculos: 'a fantastica floresta', 'o que mora no escuro', 'a menina que entra em livros' e ‘chapeuzinho vermelho'. Listamos também a produção do festival diversão em cena, maior festival de Teatro infantil. Realiza produção local para diversos grupos do Brasil e do mundo. Também é técnico de luz, técnico de som, músico e ator.

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