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TODO PROCESSO INFLUENCIA

Por Guilherme Luz


Durante todo meu percurso no teatro, sempre me observei aprendendo conteúdos novos e diversificados. Estar no teatro, aprendendo cotidianamente, só nos faz aumentar as opções sobre os trabalhos que podemos construir a partir de um primeiro contato. No Teatro Universitário da UFMG, aprendi várias vertentes diferentes, com as quais tinha interesse.


Antes de conhecer Fernando Limoeiro, já acompanhava o trabalho nos bastidores e na plateia, até saber que ele tinha mais a ensinar do que eu pensava.

Na experiência como aluno, conheci a linguagem do teatro de Mamulengos. Já possuía um desejo de estudar sobre o teatro de títeres, estava sempre rodeado de pessoas que produziam o teatro de bonecos e participava esporadicamente em oficinas de construção de marionetes.

Em 2017, Limão havia proposto, no início do semestre, optarmos pelo processo dos velhos com aprofundamento da mimese, ou fazer teatro de mamulengo. Optamos pelos mamulengos, já que era um trabalho que ele realizava no programa Pólos da Cidadania. A escolha foi coletiva e com fortes motivos que firmaram a decisão; seria algo inovador no curso, seríamos os primeiros a ter esta experiência: a de fazer algo que o Limão era referência e reconhecido pela ANIMA no Brasil. Então, fizemos nossa primeira turma do teatro universitário, segundo Fernando Limoeiro, a construir mamulengos e encenar com um espetáculo dentro da escola.



Foto: Renata Ferreira

Neste processo, executamos algumas tentativas de se construir um corpo de mamulengo com uma mimese. A ideia era incorporar um boneco e representar a manipulação. Isso tudo foi um pretexto para não deixar de aplicar o conteúdo da mimese, o que não deu muito certo, (risos) . Demos continuidade. Limão elaborou um plano para que pudéssemos construir o mamulengo, a dramaturgia e a cena em grupos. O processo de montagem com o mestre sempre é completo e ele sempre cobrou excelência nos trabalhos que realizamos como aprendizes (e não seria diferente com o mamulengo).


O processo custou um pouco da paciência da turma e deu muito trabalho para se concretizar. No começo, muitas pessoas estavam empolgadas, mas o processo foi bastante intenso e acabou resultando em um estresse coletivo, que afetou até o mestre: ele chegou a me dizer algumas vezes em sala que estava quase desistindo do processo, estava cansado, achou que não seria assim. Ouvir isso me cortou o coração… logo eu, que estava super empolgado com o processo.


Então, tentei, em diversos momentos, fazer uma ponte com alguns colegas da turma que estavam um pouco desestimulados, para que conseguíssemos terminar o processo. Em um momento, até usei o nome do mestre, em um gesto de reparar a situação, afirmando que se alguém faltasse em um dos ensaios, nossa futura apresentação no Edifício Maletta seria cancelada (o que era verdade, mas não com essas palavras). Por fim, deu tudo certo, estreamos no Maletta com o espetáculo ”Mamoeiro do Sertão Mineiro” - com cerveja e cachaça, que não podia faltar.



O Grupo Fazmerir teve seu surgimento no Rancho da Cultura, um espaço cultural reconhecido na cidade de Sabará/MG. Eu e Silas da Fonseca, dono do espaço, nos conhecemos no curso de gestão de produção cultural, ministrado por Rômulo Avelar, em 2015. Durante esse tempo, vínhamos conversando sobre a cultura da cidade e como nós, artistas locais, podíamos proporcionar uma descentralização cultural do trabalho musical, literário e teatral na cidade. O Ranho da Cultura já possuía esse caráter, mas como espaço físico e de entretenimento local.


Minha primeira visita até o espaço foi crucial para que a história do grupo começasse. Então, nessas visitas, ele falou de sua filha, Nádia Fonseca, que estava estudando teatro no Palácio das Artes. Ele nos apresentou e começamos a conversar sobre trabalhos que poderiam ser realizados dentro do espaço daquela família. Fizemos nossa primeira ponte de comunicação em uma reunião no Palácio das Artes e conversamos sobre possibilidades de projetos que poderiam acontecer na cidade, iniciando-se ali, no Rancho da Cultura.


Foto: Nádia Natiele


Silas Fonseca

A proposta inicial para dar um “start” em nossas montagens teatrais originou-se e desenvolveu-se com a ideia do mamulengo. Eu já havia construído alguns bonecos no meu tempo livre para praticar, estavam prontos para a cena. Usamos estes bonecos na construção cênica da dramaturgia “ A Primeira Morte da Morte”, que tinha sido criada pelo meu grupo da turma do teatro universitário, e que integrou parte do Espetáculo Mamueiro do Sertão Mineiro, orientada pelo mestre Limão.





Foto: Renata Ferreira
Rancho da Cultura - Sabará 2019 - Foto: Guilherme Luz

A cena “A Primeira Morte da Morte” foi uma das cenas construídas para o espetáculo dirigida pelo mestre Limão, com os alunes, Ana Elisa, Juliana Cavalli, Lais Bastos, Tatiana Mota e Guilherme Luz. Em 2019, eu e Nádia pensamos em realizar essa montagem, adaptei o texto para este trabalho e, então, começamos a criar toda metodologia com o teatro de mamulengos, utilizando os ensinamentos do mestre Limão.


Todos que estavam envolvidos anteriormente foram generosos e permitiram que ele desse continuidade comigo no Fazmerir, grupo de teatro em Sabará, o qual estaria prestes a surgir. Em meio a este processo de estudo e de montagem de marionetes mamulengos, surgiu um edital na cidade para artistas locais, o “ Festival de Ora Pro Nobis''. Enviamos a proposta como uma das atrações do festival, a qual foi aprovada com uma oficina. Em meio a este processo, com um prazo para executar, surgiu a necessidade de uma equipe diversa com atores para concretizar a montagem. Aproveitamos a oportunidade e fizemos convites a atores que dialogavam com a proposta de alguma forma, a fim de realizar nossa montagem. Os atores convidados foram; Éle Fernandes, André Luís Vicente, Lás Azzi Collet e Letícia Bezamat, somando ao todo 6 integrantes, com diversas habilidades. O espetáculo foi remontado e executado com sucesso, estreando no Festival Gastronômico. Neste dia, surgiu o nome do Grupo que agora iria continuar a realizar os trabalhos.


Nádia relata sobre o grupo e como aconteceu este evento:



Foto: Nádia Natiele

O grupo é muito querido para mim, onde todos se respeitam e nosso trabalho sempre flui com diálogo, meu pai fez parte no espetáculo a primeira morte da morte, tivemos mais de 200 pessoas assistindo na estreia da peça e marcou o bairro. O assunto se tornou polêmico, pois nossa cidade é bem conservadora, e isso deu um problema pra gente falando que tinha que ter classificação de idade, pelo fato de haver um romance de duas bonecas na peça, algo que não era para ser polêmico mas se tornou, mas conseguimos contornar com o poder público.

Nadia Fonseca


O fato ocorrido foi interessante, pois a cidade não estava acostumada com um teatro de mobilização social. Como não havia esse costume, isso incomodou uma pessoa, que tentou prejudicar o grupo, informando ao poder público críticas sobre a cena imprópria, mas o público e os próprios funcionários da Secretaria de Cultura tinham assistido à peça e deram um ótimo retorno ao nosso espetáculo. No fim, não saímos prejudicados.

Sair da escola de teatro e começar a pôr em prática o trabalho de atuação é a vontade de todo ator recém formado, Éle Fernandes é quem nos diz:



Foto: Jak Glow

Sem sombra de dúvida, o FazMeRir veio como uma cura, um presente. Antes de me formar era muito incerto,não sabia oque aconteceria depois do T.U e já sai do curso ingressando em um grupo de teatro. Me sinto realizada, pois tudo aconteceu naturalmente. Começou com um convite para trabalhar um espetáculo e, de repente, estávamos formando um grupo, que hoje já completa 2 anos. Não seria possível se Guilherme Luz não tivesse confiado no meu trabalho e realizado este convite. Hoje, conseguimos executar nossas metas individuais e coletivas dentro do grupo com organicidade. Estou realizada por fazer parte de um grupo de jovens com uma pluralidade.

Éle Fernandes



Nosso coletivo sempre tenta abordar as questões sociais. Éle Fernandes sempre destacou este dado para que não passasse batido, pois havia passado pelo programa Polos da Cidadania, contribuindo fortemente para o grupo.


Nós tentamos sempre trazer à tona as nossas inquietações enquanto cidadãos e isso alimenta nosso trabalho diariamente enquanto grupo.

Foto: Matheus Soriedem

Fazer parte de um coletivo de atores e poder trabalhar é muito importante para o meu entendimento sobre o que é fazer o teatro na rua e no palco. Compreendendo todo processo e como lidar com ele e suas especificações, aprendendo no com coletivo diariamente realizando trabalhos de interesse coletivo. Adquirimos a compreensão de que propostas surgem naturalmente, sem a necessidade da pressão externa, neste sistema que não nos privilegia e impõem certas regras para nós, enquanto pessoas, artistas da comunidade LGBTQI+, que são trabalhadoras tentando sobreviver de arte. Essa ideia de comunidade no teatro é uma grande escola e especialmente sobre como se deu do coletivo/grupo fazmerir. Na minha experiência, foi com esse grupo que se deu, foi com essas pessoas que eu consegui manifestar experiências com coisas que tinha vontade de realizar, com referências que me interessavam e práticas que não tinham tanta abertura para manifestar em outros coletivos. Hoje, temos pessoas diferentes com uma sintonia e generosidade ampla e com experiências em outras áreas e estão juntas para pensar para o teatro, o mais lindo que aconteceu neste encontro. Estar fazendo teatro em um espaço rural sempre foi algo que fez a diferença para esse grupo, ensaiamos no mato na natureza, no rancho da cultura que é nosso apoio.

Leticia Bezamat


O que fez o grupo se tornar mais diversificado do que era foi a união de duas escolas e o que cada integrante trouxe com sua vivência.



Foto: Larissa Bocchino

O convite para formar o grupo foi bastante interessante, um grupo bem diverso composto por duas instituições e que, naquele momento, os atores falaram a mesma linguagem a do boneco mamulengo e da cultura popular, que resultou em uma ação com foco no objetivo do trabalho do teatro de boneco. Estreamos nosso espetáculo no festival e demos partida para que o grupo começasse com um trabalho já elaborado com data e produção. Íamos nos conhecendo ao longo do processo e percebemos que só afirmavam a parceria entre nós. Me sinto muito privilegiada, estamos criando repertório e dando seguindo no trabalho do grupo, O nosso processo é uma pesquisa, dividimos nossas inquietações e descobertas e conseguimos explorar esse lado que nos provoca, e dar vida ao nosso processo.

Lais Azzi Cioletti


Mantivemos diálogo com Mestre, o qual ficou contente ao saber da constituição do grupo e continuação da obra. Em 2019, conheceu todos os integrantes do grupo na sede do programa do Pólos da Cidadania. Chegamos a gravar a nova versão do espetáculo naquele local em 2019.


O espetáculo rendeu muito trabalho, circulamos com o espetáculo no Festival Internacional de Mulheres, Dia do Artista Mirim, no Palácio das Artes, Mostra da Casa Anômala e em Escolas públicas.



Festival Levante - 2019 - Foto: Nádia Natiele
Dia do Pequeno Artista - 2019 - Foto: Acervo do grupo


Grupo Faz Me Rir - Foto: Letícia Bezamat

Hoje, contamos como parte do nosso repertório este espetáculo e estamos com a nova montagem “A Rua o Rio”, trabalho dirigido por Denise Lopes Leal, que faz parte do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Além disso, estamos com a pesquisa para a montagem em andamento e contamos um integrante a menos, André Luís Vicente, que contribuiu bastante com o grupo, mas que não pôde continuar. Ficamos imensamente gratos com sua passagem.


Foto: André Vicente

O convite para integrar o grupo chegou em 2019 após apresentar no festival de cenas curtas do Me Mostra, do Cefar. Participei do primeiro trabalho e foi uma experiência rica, cheia de troca e entrega. Foi uma delícia participar deste trabalho com uma equipe dedicada e talentosa. Fiquem de olho neste grupo, mais uma companhia de teatro que vale a pena prestigiar.


André Luis Vicente






Para finalizar esse texto, deixo aqui um breve relato da nossa diretora no nosso mais novo trabalho, A Rua o Rio, ela nos conta um pouco sobre a sua experiência com o grupo durante este período da pandemia.



Foto: Arami Marscher

Em maio de 2020, recebi um convite para estar dirigindo um espetáculo novo do grupo FazMeRir o nome é a “ A Rua o Rio”, o trabalho de mascaramento que foi previamente combinado para acontecer antes da pandemia. A princípio, ainda não chamava nada, nós nem sabíamos o que seria ou oque seria feito. A distância entre nós e a pandemia, fez com que realizássemos um trabalho a distância. Então Letícia, Nádia, Laís, Éle e Gui, me fizeram o convite, então a princípio era para gente fazer um esboço de uma cena, um rascunho para participar de um festival de cenas de cenas curtas, que posteriormente viria a ser um espetáculo de rua. No do projeto de cenas curtas do galpão Cine Horto.

O grupo é bem diverso trouxe neste trabalho essas questões LGBTQI+ , sempre muito comprometido, é difícil né trabalhar teatro a distância, mas o grupo possibilitou este acontecimento com responsabilidade. Em meio a pandemia, fizemos resumo das nossas tarefas na construção das máscaras, individuais e gravação caseira que em coletivo resultou em um trabalho de grupo. Foi extremamente prazeroso trabalhar com esse grupo com esses cinco artistas multi artistas.


Denise lopes Leal


 

Guilherme Luz é estudante de Licenciatura em teatro na UFMG e formado como ator pelo Teatro Universitário da UFMG. Iniciou-se nas artes cênicas com 8 anos em 2003 por meio da Ong Casa da Criança do projeto Samaritanas, com o primeira atuação O espetáculo, “Tá Relampiano cadê Neném”, co-fundador infantil do Grupo Arautos Da Poesia em Sabará que permanece na cidade até o momento. Em 2013 ingressou no projeto social Servas - Programa Valores de Minas- BH, realizou espetáculos como: “Garimpar” 2013 e fez parte da produção do Zamzar 2014, “Delírio”- BH. Em 2015 , Romeu e Julieta (escola livre de artes), EIA, 2018 com a direção de Mônica Tavares(Teatro Universitário) . Foi colaborador do projeto de TCC da UFMG “Dandara a Rainha da Liberdade” de Cleiciane Mendes. Atuou no curta metragem “ Em vós a Sonho” da produtora Almôndega Filmes, Estudou e atuou em grupos artísticos, Como: Grupo Galpão- Gestão e produção cultural, Pigmaleão - construção de marionetes, Armatrux - Ator e objeto, Kabana - oficina de bonecos nas águas. Atuou no grupos , Pontos de Contato (dança), Armatrux (Teatro), e participou do FIT com espetáculo da França lê Giraffe 2016 , Mamoeiro do sertão Mineiro Teatro de Bonecos ,O Palhaço e Santa e Eia Teatro Universitário - UFMG - 2018, A Primeira Morte da Morte - 2019 e A Rua o Rio - Grupo FazMeRir, 2020. Hoje é integrante do Grupo FazMeRir . É arte educador do programa escola integrada desde 2015 onde produziu e dirigiu espetáculos infantis como: Indé Baobá; Batucadas; Matias e Ioiô e Txopai e Itôhã.


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